terça-feira, 25 de novembro de 2008

VAI ENTENDER

Há quanto tempo eles se conheciam? Ela não lembra ao certo... talvez uns 8 ou 9 anos. Suas vidas tangenciaram num desses programas de bate-papo virtuais, onde os integrantes se cadastram, criam um personagem e utilizam sempre o mesmo número de registro. Tudo em texto. Essas interfaces moderninhas, cheias de ícones piscantes... não, nenhuma até hoje teve a mesma graça daquelas letrinhas verdes dos antigos terminais da universidade que ela cursava. Bons tempos... muitos amigos, mas também muitos créditos perdidos. Nenhuma culpa.
O local onde se conheceram também está perdido em sua memória. Mesmo da lembrança mais remota daquela época ele já fazia parte, como se nunca tivessem sido apresentados, pois sempre foram amigos. Ela pensa sobre isso agora e acha estranho...
O tempo foi passando e as amizades foram estreitando. Elos fortes mapearam o grande grupo de amigos, criando pequenos núcleos que a cada dia iam descobrindo coisas em comum. Cinema, gostos musicais, domingos de sol na Redenção. Não havia final de semana em que não se encontrassem. Ela se dava melhor com uns, ele com todos.
A juventude é uma fase da vida em que tudo é possível. Onde se faz muitas amizades e se aprende a lidar com novos sentimentos. O mundo é uma promessa e todas as cartas estão no jogo. É a época de muitos amores, com certeza. Ela teve alguns declarados, ele não se sabe.
Por algum motivo, numa noite, ela percebeu que poderiam ser mais que amigos. Como se seus olhos passassem a ver uma tonalidade completamente nova. O medo de pôr em risco uma amizade antiga foi colocado na balança, mas ela era jovem e acreditava que estava no caminho certo. Decidiu apostar. Ela era o coração, ele a razão.
Após esse, todos os dias correram iguais. Um após o outro, durante o que pareceu uma eternidade. Toda aquela alegria que preenchia sua alma cedia lugar a farpas que ora machucavam seu próprio peito, ora eram disparadas ao primeiro sinal de solidão. Era como se estivesse sempre sozinha. Ela contava seus anseios, ele escutava.
Tudo aquilo que vinha morrendo aos poucos fez nascer uma vontade de querer mais. Não podia mais aceitar que os anos escorressem pelos dedos. Não podia mais se contentar com o que tinha. O que tinha já não fazia mais parte dela. Ela sonhava alto, ele preferia a rotina.
Sentada na varanda da casa ela observa a vida com os olhos voltados para o passado e pensa em como a vida surpreende. Agora ela via um tempo que não se encaixava mais nos seus desejos. Como algumas coisas podem mudar tanto de um dia para o outro? Outras não. Outras vão continuar sempre iguais. Ela de humanas, ele de exatas.

Dani