domingo, 15 de março de 2009

REENCONTROS


Voltei no tempo. Mais precisamente na sexta-feira da semana passada eu voltei no tempo. E não foi a primeira vez não. Há uns poucos anos já tinha me acontecido isso. Assim, de uma hora para outra. Muito doido. E antes que vocês se perguntem se usei alguma geringonça soltando fumaça ou alguma substância ilícita, vou avisando que o caminho não foi esse.
Aconteceu por música. Era um dia normal até a menina da recepção pedir meu mp3 emprestado e perguntar que banda era aquela. Como assim, não conhece?! Me senti a própria Dorothy sendo transportada com seu cãozinho para o Mundo de Oz. Só que ao invés do furacão, foram acordes que reavivaram as lembranças da minha adolescência. Me vi novamente com 14 anos.
Quando aterrissei, estava na oitava séria do ensino fundamental. Nunca fui popular no colégio, mas sempre tive opinião pra dar. Talvez tenha sido por isso que nunca fui popular. Lembro de uma garota na minha sala que colecionava fotos, reportagens, notícias, tudo que poderia sair publicado sobre uma outra banda de cabeludos em suas calças de couro muito justas e seus penteados armados. “Eles são os tais”, dizia ela. Eu não podia aceitar e isso sempre acabava rendendo algumas discussões saudáveis que terminavam com cada uma sabendo exatamente qual era a melhor banda. Detalhe: a gente nunca concordou.
Eu voltava pra casa ouvindo a fita K7, muitas vezes rebobinada à mão com o auxílio da querida bic. Sabia as letras de cor. Lembro de um dia estar cantando com o 3 em 1 aos quatro ventos e só depois me dar conta de que o prédio inteiro não apreciava meus dotes como vocalista. Essa era eu. Nunca me travesti de roqueira, nunca pintei o cabelo de azul ou as unhas de preto, nunca fiz tatuagem ou coloquei piercing. A camiseta que eu usava era pra esconder a gordurinha extra que sempre me acompanhou e o cabelo volumoso é culpa da genética. A minha alma não. Ela sim fez tudo isso. Os outros é que não viram.
Volto à sexta-feira como quem acorda de um sonho muito real. Estou no trabalho, com a menina que nasceu no mesmo ano que meu disco favorito foi lançado. Quase tudo voltou ao normal. A minha alma continua lá, vendo sua banda favorita a 10 metros de distância. Ainda ouve e canta junto com ela porque ainda sabe as músicas de cor. Ela ainda tem os cabelos coloridos e usa aquela camiseta desbotada pelos passeios na máquina de lavar. Sei que ainda vamos nos encontrar muitas vezes.

Dani

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