terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Problemas na Tireóide

Não só ganho de peso, mas coração fora do ritmo, intestino desregulado, queda de cabelo, pele ressecada e até depressão — a origem de tantos tormentos pode estar em um só canto do corpo, bem ali no pescoço. Saiba por que esses problemas se tornam cada vez mais comuns e como arremeter suas repercussões.

por DIOGO SPONCHIATO
design THIAGO LYRA
ilustrações BRUNO ALGARVE

Desde que o anatomista flamengo Andreas Vesalius (1514-1564) fez a primeira descrição científica da tireoide, ainda no século 16, a glândula com o formato de borboleta jamais saiu dos holofotes da medicina. Nos últimos anos, então, ela frequenta rodas de conversa que não se restringem à turma do jaleco branco. O motivo, infelizmente, é que os distúrbios tireoidianos, capazes de ressoar literalmente das unhas dos pés aos fios de cabelo, estão em ascensão. Sem dúvida aumentou o número de diagnósticos — algo que se deve à atenção crescente dos clínicos e aos avanços nos exames. Mas o fenômeno, observado no consultório médico, não é reflexo só disso. O que pode explicá-lo? Uma das respostas estaria no consumo excessivo de uma das matériasprimas dos hormônios tireoidianos, o iodo. O exagero de iodo, assim como a falta do mineral, atrapalha a linha de montagem dos hormônios. O desfecho da história é uma doença autoimune batizada de tireoidite de Hashimoto, a principal causa de hipotireoidismo.
Outras hipóteses buscam justificar tanta tireoide fora de rota. “Especula-se que agentes químicos presentes em alimentos e em produtos de limpeza possam estar relacionados a disfunções da glândula, mas nada foi comprovado”, diz Danielle Andreoni. Há quem desconfie ainda dos efeitos da poluição e até do estilo de vida — o estresse, por exemplo, daria permissão de decolagem a doenças autoimunes por trás do desequilíbrio.

Depois de vislumbrar em nosso mapa tantas repercussões, já deu para perceber que a tireoide segue aquele velho preceito de que a virtude é o meio-termo. Nem hormônio de mais nem de menos. Quando respeitada, essa fórmula assegura o desenvolvimento da criança, torna real o sonho da maternidade e garante disposição para a vida inteira. Ao longo dos anos, até os olhos podem espelhar uma tireoide equilibrada. Um trabalho da
Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, mostra que os problemas na glândula catapultam a probabilidade de glaucoma, o aumento da pressão intraocular capaz de levar à cegueira. “Tanto o hipo quanto o hipertireoidismo parecem elevar esse risco”, diz o autor do estudo, Gerald McGwin.
No entanto, muito antes de essa ameaça despontar, serão outras as queixas que conduzirão uma tireoide em pane ao endocrinologista. Cansaço crônico, depressão, arritmia... As suspeitas são sempre maiores quando quem pisa no consultório pertence ao sexo feminino. “As disfunções são cerca de cinco vezes mais comuns nas mulheres”, estima Mário Vaisman.

Para acusar uma tireoide de preguiçosa ou agitada, entretanto, é preciso ter provas. E a primeira delas é colhida no sangue. Um ultrassom pode complementar o inquérito, mas, aí, a meta é apurar a existência de nódulos.
A boa-nova é que as táticas disponíveis podem exigir paciência, mas permitem que a tireoide entre na linha — e, com isso, sejam silenciadas aquelas inúmeras manifestações a distância. “Uma vez que o tratamento obtém sucesso, tudo volta ao normal”, tranquiliza Roberta. Daí, a glândula recupera o manche e, sem turbulências à vista, embarca o corpo inteiro rumo ao equilíbrio.
Fonte: Revista Saúde.

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